“Começo a ansiar por alguma pequena linguagem, como usam os amantes, palavras interrompidas, palavras inarticuladas, como o arrastar dos pés na calçada.” Virginia Woolf, que adorava andar pelas ruas de Londres, escreveu essas palavras no seu romance As ondas, manifestando o desejo de uma escrita que se constrói a partir do corpo em movimento e se concebe como um corpo desejante que vai em busca do mundo, do seu drama, das vidas anônimas que ele acumula e dissolve, dia após dia, dos lugares escondidos, das belezas imprevistas. É também com toda uma tradição que se tornou expressiva na literatura do século XIX que Woolf dialoga: a do flâneur. Imortalizado por Edgar Allan Poe no seu conto “O homem na multidão”, o flâneur é, a um só tempo, alguém que segue e é seguido, que se perde e se encontra no ritmo, na pulsação da cidade, alguém que se deixa capturar pela modernidade e seus fluxos, enquanto os captura a ponto de torná-los parte de si mesmo. 

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Nesta oficina de escrita, vamos retomar a figura do flâneur para conjugá-lo no feminino, seguindo os passos de mulheres, entre escritoras, cineastas e artistas de modo geral, que criaram muitas de suas obras a partir da errância pela cidade e que, igualmente, tematizaram e renderam homenagem à flânerie em suas criações. Também vamos propor exercícios de escrita que tomam o caminhar, esse gesto a um só tempo simples e subversivo, como inspiração ou potência de criação artística.