Com agudeza de gênio, Machado de Assis produziu uma obra que desvenda as entranhas da má formação da sociedade brasileira. Assim, Capitu – a menina jovial, inteligente, vivaz e desprendida – torna-se vítima do ciúme ensandecido de Bentinho, um Otelo brasileiro, na acertada formulação de Helen Caldwell. É justamente a crítica norte-americana – a partir da qual prosseguiriam os estudos de John Gledson e Roberto Schwarz – que, mais de cinquenta anos após a publicação do livro, consegue vislumbrar a chave do romance cifrado de Machado. Este atraso na recepção mais precisa da obra, como veremos, é muito significativo do caso brasileiro, pois é Bento Santiago, homem de posses, bacharel em direito, católico e conservador, quem deve estar sob suspeição, uma vez que todo o seu discurso é um libelo de acusação contra Capitu.